19/11/08

ISABELINHA, O MÉDICO SOLIDÁRIO


O doutor Joaquim Isabelinha vai celebrar o centésimo aniversário no dia 5 de Dezembro e vai ter no dia 8 uma grande festa de homenagem. Sexta-feira, depois da conferência de imprensa, subimos as escadas do velho consultório no Largo do Seminário, para saber como está o antigo médico oftalmologista e trocar dois dedos de conversa sobre a sua vida de homem solidário que lhe valeu o título de "médico dos pobres".
Os quase 100 anos de idade pesam naturalmente, mas o doutor Isabelinha mantém-se lúcido e atento ao que se passa à sua volta. "Gostava de saber como ficaram as eleições americanas, gostava tanto que o Barak Obama ganhasse... É um homem notável."
As palavras do velho médico colhem-nos de surpresa. No corpo franzino e ultimamente enfraquecido, a ponto de só conseguir andar com a ajuda de um andarilho, o doutor Isabelinha recorda-nos os episódios marcantes da sua vida, como se os estivesse a reviver hoje.
A conversa sobre Barak Obama emocionou-o vivamente com a memória de um antigo amigo do curso de medicina em Coimbra e da equipa de futebol da Académica. "O Filipe Santos era cabo-verdiano e recordo-me que de início estava muito receoso de ser mal recebido pelo facto de ser mulato. Pelo contrário, todos os tratávamos bem. No fim do curso, voltou para Cabo Verde.Inconformado com aquele desterro e com as saudades de Portugal meteu-se na bebida e acabou por morrer com problemas de saúde", recorda de lágrimas nos olhos. "Se eu tivesse sabido, que ele passava mal, tinha-o ajudado a regressar a Portugal e ele certamente tinha tido outra vida, mas só soube o que se passou depois da sua morte", recordou o doutor Isabelinha.
Mudamos a agulha da conversa para todas as outras pessoas que o doutor Isabelinha ajudou, salvou da cegueira, da fome e da miséria.
Filho de agricultores de Almeirim, já em estudante o doutor Joaquim Isabelinha ajudava financeiramente colegas necessitados. "Sempre fui poupado e procurava não gastar tudo o que tinha, por isso quando me sobrava algum dinheiro podia ajudar as pessoas". Oftalmologista prestigiado, ao seu consultório acorriam pessoas de vários pontos do país. "É verdade que ganhei muito dinheiro, mas foram talvez mais as consultas que dei sem cobrar nada e muitas vezes a dar ainda uma ajuda para os medicamentos dos mais necessitados".
Atribui a saúde e lon-gevidade, ao facto de "ter levado uma vida regrada, sem fumar, sem beber, sem noitadas ou excessos". Quais foram então os seus prazeres na vida? - "Tive uma vida muito boa. O meu prazer era estar com a família, com os amigos e, na juventude, a jogar à bola primeiro em Almeirim, depois no Liceu em Santarém e mais tarde na Universidade em Coimbra. O melhor que me aconteceu na vida foi o casamento com a minha mulher que era uma santa senhora".
Na sala onde nos recebeu, as paredes estão decoradas com fotografias ampliadas da família. Fala-nos da grande estima pelo seu filho, também médico oftalmologista, doutor José Isabelinha, e do especial carinho pelos seus três netos e da bisneta, que lhe avivam o olhar de alegria.
Não conheço pessoalmente este grande senhor mas toda a vida ouvi falar muito dele. A Minha avó com os seus 86 anos conta que o Dr. isabelinha é uma grande figura, sem dúvida, um exemplo de generosidade e solidariedade. Parabéns!

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