13/10/08

A "Senhora" era eu...

Retirei este texto do HI5 de uma pessoa que não vou identificar pois não lhe pedi autorização para publicá-lo aqui, mas como fala de mim, tomei a liberdade de partilhá-lo com quem por aqui passar...
" Hoje vou inaugurar o meu diário. É suposto falarmos de coisas que nos acontecem, mas a minha vida é tão sem sal, que pouco ou nada tenho a contar. Mas lembrei-me de algo que me marcou e que não esqueço facilmente, se é que algum dia vou esquecer.
Era véspera da noite de Natal, estava eu na Óptica Vanessa em Almeirim, propriedade da minha amiga Helena Fidalgo, quando deparei com uma senhora que tentava a todo o custo encontrar um sem abrigo, que ela tinha visto na rua, e que não queria de maneira nenhuma, que ele ficasse sem noite de Natal, nem que para isso, tivesse que levá-lo para casa dela.
Juntamente com a Helena arranjaram sítio pra ele ficar naquela noite.
Mas a dita senhora não se ficou por aí, foi comprar uma prenda e entregou à Helena, para agradecer tudo o que ela tinha feito.
Se eu já estava a admirar a senhora (digo senhora mas andava pela casa dos 30 e poucos anos), mas fiquei a admirá-la ainda mais porque ela agradeceu por uma coisa que nem era para ela, simplesmente alguém da rua e que até nem conhecia.
Por mais que viva, poucas serão as vezes que irei ver algo assim.
Hoje em dia as pessoas só pensam nelas, não olham à volta com olhos de ver.
Pequenos gestos, tornam pessoas tão felizes!
E eu fiquei muito feliz por ter assistido a tudo isto. Bonito!
Estas duas pessoas também têm defeitos como todos nós, mas têm seguramente muito bom coração.
Conheço a Helena, não conheço a outra senhora, mas para as duas vai a minha admiração."
A "Senhora" era eu...
Queria apenas aqui acrescentar que quando finalmente, com a ajuda da Lena, conseguimos autorização para que o Senhor passasse a noite de Natal no quartel dos bombeiros Voluntários de Almeirim, não consegui encontrá-lo. Tinha-lhe dito para se deslocar até lá e esperar por mim, pois tinha a certeza que iríamos conseguir que ele ficasse por lá, pelo menos naquela noite. Aquando da conversa que tive com ele dei-lhe dinheiro e como percorri todas as ruas de Almeirim e não o encontrei deduzi que ele tivesse entrado num café ou numa pastelaria para comer alguma coisa ou até que tivesse saído de Almeirim. Durante a conversa percebi que o álcool era o seu refúgio e li no seu olhar embebido em lágrimas que a vida não lhe sorria há muito tempo. Confessou-me que era sem abrigo há mais de vinte anos, era Alentejano e não tinha família. Não o ter encontrado foi para mim uma grande frustração. Não imagino onde terá passado a noite de Natal...
A minha, à semelhança dos anos anteriores, foi na minha casa aquecida, com a minha família reunida em redor de uma mesa com todo o tipo de comida e a tradicional árvore de Natal escondida atrás de um monte de presentes. Foi uma noite de Natal, como tantas outras, mas confesso que sempre que me lembrava daquele Senhor, sentia um aperto no coração.
Para ele e para tantas pessoas pelo mundo fora as noite são sempre iguais: noites de vazio, de solidão e aflição.
Para a autora do texto que transcrevi, recordo-me perfeitamente de si. Apetece-me dizer-lhe que se ficou comovida com toda esta situação é porque também deve ser uma pessoa generosa. E se é generosa, não acredito que a sua vida seja "sem sal"!!!

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