15/10/08

DEIXA-ME RIR



"Sabia que rir contribui para a saúde mental, cardiovascular e imunitária?

Assistimos a uma aula de Riso Yoga e contamos-lhe como pode fazer do riso o seu exercício diário.
No papel à entrada lê-se “Sessões de Riso”, mas o ambiente tem muito mais de aula do que a expressão – mais associada a uma espécie de intervenção médica – pode fazer acreditar. Existe uma “professora”, a sorridente Sabrina, e 12 “alunos” que, por esta altura, se vão alinhando, em tímido desconcerto, no meio da sala vazia. “Podem descalçar-se”, lança ela, “e preparar-se para o aquecimento”. Ninguém disfarça a surpresa: parece que, para além da incógnita, os 30 minutos que se seguem vão ter componente física.Estamos em Belém, na cave de um edificio em plena zona residencial. Há música ambiente, devidamente relaxante, e incenso. Afinal, é de Riso Yoga que se trata, uma técnica que combina os efeitos do yoga, a nível de respiração e concentração, com a sensação de bem-estar e energia emocional positiva que uma boa dose de riso provoca.

Mas de que se ri, durante uma sessão de Riso Yoga?

Em boa verdade… de nada.O que começou na Índia em 1995, com um grupo de cinco pessoas a contar anedotas, tornou-se posteriormente uma técnica apurada, desenvolvida por Madan Kataria. O médico, inspirado por trabalhos científicos que evidenciavam os benefícios do riso no corpo e mente humanos, percebeu rapidamente que o sentido de humor não é uniforme e que o que faz uma pessoa rir pode deixar outra completamente indiferente. Kataria transformou assim o riso de emoção em técnica e concebeu o lema básico do Riso Yoga: “fingir o riso, até que ele se torne verdadeiro”.

Rir sem motivo pode parecer artificial; na verdade, é uma engenhosa forma de enganar o cérebro, que não consegue distinguir entre os dois tipos de riso (“real” e “forçado”), produzindo poderosos químicos como resposta. As endorfinas, responsáveis pela sensação geral de bem-estar, não são sensíveis a piadas e desconhecem o sentido de humor.
Não é tanto que uma boa gargalhada proteja o coração, mas o stresse mental provoca uma disfunção no endotélio, a barreira protectora dos vasos sanguíneos.

A técnica do contágio:

Devidamente instruídos de que iríamos passar 30 minutos a forjar risos e gargalhadas, Sabrina apresentou então os primeiros exercícios. “Cumprimentem-se entre vocês, rindo abertamente e mantendo sempre o contacto visual, enquanto se movimentam pela sala, como se estivessem a estender roupa”. Fica claro nesta altura que o insólito é um meio para um fim. O Riso Yoga assenta em movimentos e jogos de simulação interactiva, que acabam por servir para “quebrar um gelo” e promover a descontracção. O medo do ridículo - que se traduziu em meia dúzia de segundos de relutância - acaba por ceder e dar lugar a uma disponibilidade cada vez maior para rir.Seguem-se “o Riso da Seta”, o “Riso Tímido”, “Riso da Discussão”. O fenómeno é contagioso, até porque não é fácil manter cara séria quando um conjunto de estranhos aparentemente perdidos de riso imitam o andar de um pinguim. “Riso do Messenger”, “Riso do Telemóvel” - este último serve também como trabalho de casa. Se as sessões do riso não envolvem grande logística, podendo ser praticadas em qualquer espaço, também é verdade que rir sozinho no meio da rua não é exercício que se aconselhe. “Por isso peguem no vosso telemóvel, finjam que estão a conversar com um amigo e riam muito, bem alto. Ninguém vai saber”, incentiva Sabrina.A ideia não é assim tão despropositada. Enquanto uma criança ri, em média, 300 vezes por dia, um adulto fica-se por uns sisudos 17. Até os animais o fazem, de acordo com estudos publicados este ano na revista científica “Science”. Existem por aí ratos, cães e chimpazés a rir, utilizando para isso uma zona primitiva do cérebro. Se assim for, o acto de rir tem pouco a ver com uma capacidade humana mais elaborada e radica em um sistema mais básico, irracional, quase instintivo, pelo que faz todo o sentido que o utilizemos enquanto processo físico e não intelectual."


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