Há dias em que só me apetecia poder gritar até não conseguir mais.
Ontem foi um dia assim, hoje também vai ser.
Ontem faleceu um colega de turma da minha filha, chamava-se Bernardo, tinha 8 anos. Posso até dizer que eram amigos de longa data, conheceram-se no infantário e têm feito todo o seu percurso escolar juntos.
No infantário tiveram a sorte de ter uma Educadora extraordinária, a Rita, que foi um pilar importantíssimo nos primeiros anos de vida dos nossos filhos. Quer em termos pedagógicos, quer em termos afectivos, a Rita é uma Educadora com um grande "E". Gosta da sua profissão, exerce-a com muita dedicação e entrega e acima de tudo gosta dos seus meninos.
Foi quando eles andavam no infantário que conheci a Susana, a mãe do Bernardo, e as mães e pais de outros meninos, que ainda hoje frequentam a mesma turma.
Criaram-se laços de amizade inevitáveis, são muitos anos de convivência e passámos bons momentos juntos. Recordo por exemplo a Festa de Finalistas dos nossos filhos...
Todos sabíamos que o Bernardo tinha um problema de saúde grave, um problema de coração detectado quando ele era muito pequenino. Sabíamos porque a Susana é um mãe dedicada e preocupada, conversava e desabafava muito connosco sobre o problema do filho.
Sabíamos que o pior podia acontecer um dia, aconteceu ontem, e ninguém queria acreditar.
Foi difícil dar a notícia à minha filha.
Foi ainda mais difícil encarar a Susana e tentar consolá-la, se é que existe algum tipo de consolo ou reconforto que se possa dar a uma mãe que acaba de perder um FILHO.
Foi difícil vê-la na casa mortuária a falar para o filho, a fazer-lhe festinhas na testa e na cara e a dar-lhe beijinhos. Foi esta a imagem que me atormentou toda a noite. A imagem da minha amiga a despedir-se do filho e a sentir uma dor cruel e inexplicável. Por hoje, não consigo escrever mais nada...Também sou mãe...
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