26/01/09

A PROPÓSITO DA CRISE...



De tudo o que tenho ouvido ou lido acerca da CRISE ECONÓMICA, esta opinião é sem dúvida a mais interessante. Admitindo que a CRISE que estamos a viver é grave, o DR. Francisco Moita Flores lamenta todo o fatalismo assumido pela maioria dos Portugueses, principalmente pelos nosso Governantes. Para ele é preciso resistir e não desistir, lutar e não baixar os braços.

Leiam, o discurso é simplesmente delicioso...


O funeral


Quem ouvir a maioria dos protagonistas que disserta sobre a crise, ou sobre as crises, que analisa desempenhos desta ou daquela instituição, fica com a sensação de que nada há mais nada a dizer, ou a fazer, do que lamuriar, resmungar, carpir, censurar, para além de uma procissão de lamentos. Parece que Portugal se transformou num velório. Num fatalismo doentio. Num destino trágico. Numa morte anunciada.
Cansa tanta autoflagelação. Tanta inteligência desperdiçada, tanto sábio maldisposto, tanto político grave e de luto. Somos, de facto, um país desencontrado dos seus próprios passos quando as suas elites, se elites lhes podemos chamar, convertem as suas mágoas, derrotas e indignações no único caminho que dá sentido ao discurso generalizado sobre todos os prejuízos da crise. Vem isto a propósito da projecção de expectativas sobre o novo presidente dos Estados Unidos, agora empossado. Barack Obama é o novo D. Sebastião português. É ele o arauto de um novo Mundo. A renovação, o futuro, a referência da confiança. E nós, pobres de nós, trastes governados por trastes, com uma Oposição de trastes, reféns da nossa miséria material e da ainda maior miséria moral. É verdade que a crise económica está a provocar estragos sociais graves. Que a pobreza da discussão política agrava os níveis de incultura e ignorância que colocam o País em corredores estreitos para se construir em herança de futuro. Que esta confusão desnuda a crise moral instalada nas estruturas do Estado, no que respeita à competência e ao serviço público. Mas também não é menos verdade que é preciso reagir, resistir, criar soluções, abrir caminhos. Já vivemos dias piores e soubemos sair deles. Dias terríveis dominados pelo desespero da fome, do desemprego, da guerra, da censura, da subjugação nacional. Passámos pelos tempos do medo maior, das masmorras, dos degredos. Comemos muitos dias, de muitos anos, o pão que o Diabo amassou e sempre foi possível construir um novo caminho e recuperar o sentido da esperança.
Não desisto. Não me conformo, nem me revejo na lamúria dominante e sei, que apesar de todas as dificuldades, de todos os martírios, de todas as injustiças, de todos os escândalos, de todos os profetas da desgraça, esta não será a última crise, nem o funeral que se celebra em todas as alcovas.
Não é verdade. Esta terra é maior do que os alcoviteiros da desgraça e da preguiça. Não tenho dúvidas. Este é um falso funeral.
Francisco Moita Flores, professor universitário.

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