21/06/08

Baseado em factos reais...

ALGUMAS FOTOS DA FESTA DE ANIVERSÁRIO DO MEU PAI SEGUIDAS DE UM TEXTO QUE LHE DEDICO...
Houve direito a KARAOKE







Até o meu tio Puscas e a tata Déo viera de França para celebrar os 60 anos do Martin. Aqui estou eu a dançar com o Puscas.





Uma brincadeira que não iremos esquecer!!! O Tiago, o -Zé, o Filipe e o Luis Miguel, fizaram um show que apanhou toda a gente de surpresa.







Partiu para França aos 18 anos de idade, à procura de uma vida melhor, à semelhança de muitos Portugueses. Deixou mãe e irmãs em Belinho, uma pequena aldeia perto de Esposende.

Foi obrigado a abdicar da sua tenra infância devido ao falecimento do pai, tendo passado para ele a difícil tarefa do sustento da família.

Partiu com uma trouxa às costas, com uma muda de roupa, algum dinheiro (pouco) e mantimentos para a viagem. Foi uma longa viagem, cheia de peripécias.

Chegou a França, desconhecia a língua, os costumes, a cultura. Foi um choque. Teve que se adaptar, teve que fazer pela vida.

Trabalhou muitos anos no "duro". Carpinteiro de profissão e um autêntico "faz tudo", trabalho nunca lhe faltou, nem vontade de trabalhar. Trabalhava durante a semana para o patrão e ao fim de semana fazia uns biscates para ganhar mais algum. Ainda me lembro do ar cansado desenhado no seu rosto quando chegava a casa e do pó da madeira que trazia todos os dias no cabelo. Quando finalmente conseguia tirar um dia, jardinava, tratava da horta, fazia bricolage.

Foi também em França que conheceu a minha mãe.
Também ela escolhera França como destino. Também ela trabalhava muito. Costumava ir com ela aos fins de semana limpar uns escritórios, era mais uns trocos que se ganhava.

Trabalhavam com o objectivo de construir uma casa em Portugal. Ai Portugal! Sempre com Portugal no coração! E conseguiram. O meu pai adoptou Almeirim e construíram uma casa, o orgulho deles.

Fizeram mais ainda. Apesar de nunca nos ter faltado nada, nem a mim nem ao meu irmão, fomos educados com os bens materiais essenciais e desde muito cedo aprendemos que na vida nada se faz sem trabalho, sem sacrifícios. E foi com muitos sacrifícios que compraram uma casa em França. Um casa antiga que demorou anos a ser restaurada pelo meu pai e por alguns amigos.

Em casa falava-se Português, ouvia-se música Portuguesa, comia-se comida Portuguesa...e sonhava-se com o totoloto, não para ficarmos ricos, mas para podermos voltar para Portugal.
Nasci em França mas senti-me sempre Portuguesa. E nós somos aquilo que sentimos, certo?
Fui a primeira a regressar a Portugal. Tinha 18 anos. Não vim com uma trouxa às costas, vim num carro com toda a minha família. Deixaram-me cá e voltaram para França. A escolha foi minha. Vim estudar para Portugal.

A minha mãe ficou muito desgostosa com a minha opção, sofreu muito com a minha ausência. O meu irmão era um adolescente, tinha apenas 12 anos, também lhe devo ter feito muita falta. O meu pai, apesar de também nunca o ter demonstrado também sofreu, em silêncio. Deixaram-me ir atrás de um sonho mas eu não podia decepcioná-los. Ainda me lembro do meu pai me ter dito qualquer coisa do género: "Vais para Portugal estudar, vamos fazer-te a vontade, mas garanto-te que se chumbares um ano, voltas logo para França!!!"

Levei este aviso muito a sério. Sabia que não podia falhar, eles mereciam que eu desse o meu melhor, pela confiança que estavam a depositar em mim.

Confesso que não foi nada fácil para mim, nomeadamente no primeiro ano. Apesar da escolha ter sido minha, o afastamento da minha família foi penoso. Na Faculdade de Letras também passei por uma fase de adaptação laboriosa. Não conhecia ninguém, o ritmo de vida era completamente diferente e não dominava a língua como os meus colegas que tinham feito a escolaridade em Portugal. Na Faculdade e Letras não há lugar para quem não domina a Língua Portuguesa. Foi uma barreira que ultrapassei com algumas ajudas dos amigos que fui cultivando e com muitas noites de estudo. Como diziam os meus pais, nada se faz sem sacrifícios.

O meu irmão seguiu os meus passos. Formou-se em França e depois veio viver para Portugal. Mais um tormento para os pais.

E com isto tudo o meu pai já tem 60 anos, feitos no dia 15 de Maio.

Foi brindado com uma festa onde juntámos amigos e familiares e boa disposição não faltou. Veio de propósito a Portugal festejar os seus 60 anos e valeu a pena. Foi um momento bem passado com muitas gargalhadas. Estivemos todos juntos...foi o mais importante.

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